Som e Fúria: Um Santo, Alguns Ossos Quebrados e Muita Música Boa

Som e Fúria: Um Santo, Alguns Ossos Quebrados e Muita Música Boa

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Emoção e muita dramaticidade, são esses os dois elementos que melhor definem o primeiro disco do grupo St Paul & The BrokenBones ), some-se aisso muito groove e melodias ricas: pronto, temos a receita perfeita para um disco classudo e potente e é exatamente isso que Halfthe City é.
A banda, baseada no Alabama, teve início em 2012, quando o vocalista Paul Janeway e o baixista Jesse Phillips resolveram unir seus talentos em um projeto que não foi adiante; foi aí que se uniram a eles BrowanLollar (guitarra), Andrew Lee (bateria, percussão), Allen Branstetter (trompete), BenGriner (tuba e trombone) e Al Gamble (piano e órgão).

Não faz muito tempo que conheci o trabalho desses verdadeiros rapazes do interior, mas logo na primeira audição senti como se minha cabeça fosse explodir, fui tomado por um êxtase que há algum tempo eu não havia experimentado – talvez desde Man On a Tightrope, de Phillip Long. Foi como em um desses encontros casuais que nunca sabemos quando vai acontecer e que acabam nos surpreendendo de maneira positiva. Primeiro, como o meu conhecimento da banda se deu através do vídeo feito pelo La Blogothèque, veio a vontade de mimetizar o jeitão despojado do vocalista, que caminha, aponta, dança e conduz toda a situação com admirável naturalidade.

A voz de Paul é poderosa, mas também gentil, acolhedora e os arranjos de sopros remetem à década de 60 e 70. A influência gospel aparece como norte nos vocais, servindo como veículo de sentimentos profundos que são liberados em verdadeiras torrentes, fluindo como eletricidade, incapaz de ser detida. Não poderia ser diferente, já que se trata da raiz de Paul, que desde criança foi educado para ser um pregador.“Eu sinto que com a minha experiência na igreja, quando eu costumava a falar e pregar, eu aprendi a improvisar. Você aprende a ler as pessoas”, disse em entrevista à revista Esquire, “cantar ou pregar, é a mesma coisa para mim”, reflete o frontman capaz de acender uma plateia de dezenas ou milhares com o mesmo entusiasmo e do qual o apelido de santo vem do fato do jovem sulista não beber, fumar ou consumir qualquer tipo de droga, preferindo se dedicar à sua voz e a passatempos que ele denomina de “entediantes”, com assistir Netflix e ficar em casa. Sua desenvoltura e teatralidade no palco retratam bem o que o crítico Carlos Calado descreve em seu livro O Jazz Como Espetáculo (Perspectiva), onde se dedica a investigar os efeitos que as performances ao vivo desencadeiam, começando pela postura do músico como um ator de teatro que veste sua máscara antes de entrar em cena.

Falar da surpresa sonora que o poderoso som da banda me proporcionou não é o mesmo que falar de um espanto frente a um revival de estilo, mas do reconhecimento de quem desponta como estrela brilhante no horizonte de uma noite de céu claro.
Intensidade é outra palavra que também define Half The City, já que75% do álbum foi escrito em apenas um mês. No entanto, não houve pressa, mas sim uma necessidade criativa e por isso o trabalho pode soar áspero em alguns momentos, o que combina muito com os corações partidos e tristezas profundas descritas em algumas canções. Só para fazer a felicidade de quem gosta de dados ou de curiosidades, Half The City foi produzido por Ben Tanner, do Alabama Shakes.

Uma das características mais marcantes que atribuímos à música é a de nos comover, de nos tocar em um nível profundo e inconsciente, levando-nos a experimentaro mundo de outra forma. O mesmo ocorre com a experiência religiosa para muitas pessoas. Não falo aqui de uma única religião como base para uma vivência espiritual profunda, mas como ponte para se chegar ao ponto de mutação onde tudo o que é de cima confunde-se com o que é de baixo, o que está longe confunde-se com o que está próximo. Enfim, ambas asvivências, musical e religiosa, despontam no horizonte de cada um como um délibáb.
Então, estou aqui convidando-os a participarem de uma comunhão, de uma festa liderada por um santo que transforma dor em cores vivas para pintar a alma de quem se dispuser a ouvir com ouvidos e coração abertos. Aproximai-vos, irmãos de som e de fúria!

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.