De Pé: entrevista #1 – Antíteses

De Pé: entrevista #1 - Antíteses

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“Pintando a vida em sépia” essa é a frase que lemos ao abrir a descrição do artista em sua página do facebook: se sépia for sinônimo de melancolia, essa é uma boa palavra para descrever as canções do curitibano Bruno Vieira, ou se preferirem Antíteses.

De Pé: Você lançou recentemente o album “Desamores” como tem sido o feedback?
Antíteses: Eu não tive tanto feedback em relação a opiniões diversas, mas o que veio de retorno pra mim foi muito positivo, não teve nenhuma crítica negativa em relação ao trabalho. As críticas negativas são só as minhas mesmo, quando algumas coisas erradas e penso “Puts, podia ter melhorado isso”, e o melhor é que eu tô com uma agenda de shows marcados pra novembro e dezembro.

DP: E como foi o show de lançamento?
A: Foi muito bacana! Porque minha vida inteira eu toquei somente no formato voz e violão, e eu dava uma mudada porque eu fazia arranjos maiores na gravação, e ao vivo isso tinha que ser adaptado, e eu tentava dar umas enfeitadas pra não ficar um negócio tão morno. E o que aconteceu nesse álbum é que eu extrapolei, coloquei muito mais coisa do que tinha nos meus últimos trabalhos, e ai eu chamei uns amigos que eu sabia que tinham interesse em tocar e fazer um show com banda completa, porque não ia fazer sentido levar só violão e voz desse álbum. Depois que eu terminei o show eu tava completamente dolorido, como se eu tivesse parido e colocado um filho no mundo, e mesmo que não tenha ido a tanta gente, a equipe do local (Centro Cultural Portão) disse que foi bastante gente pra um dia de semana, então foi um bom começo.

DP: Pra você, quais as principais diferenças do seu primeiro trabalho pra esse?
A: A grande diferença foi o tempo que eu demorei pra fazer, o “Diários de Chuva” eu compus e gravei em um mês, e acabei gravando meio que direto, não teve regravação e nem maiores edições além de ser mais acústico, e as músicas são bem mais longas, e as letras mais difíceis, mas não difíceis de entender, mas sim de absorver pelo menos na primeira escutada. O “Desamores” eu comecei a compor em agosto do ano passado e o processo acabou demorando cerca de um ano por querer fazer algo mais profissional.

DP: Qual foi o processo de gravação dos dois?
A: Meu primeiro álbum foi gravado com um microfone de notebook, e eu tive que fazer muita gambiarra pra ficar mais escutável, já o mais recente eu fui comprando equipamentos e fui regravando o album inteiro, cheguei a fazer esse processo 5 vezes, porque eu gravava uma vez e daí comprava um microfone novo, e assim foi indo. Pensei muito também na duração do album, não queria fazer uma coisa tão longa porque é muito dificil as pessoas ficarem 1 hora presas a um album, inclusive eu, e daí acabei me inspirando no Cícero que na época que lançou o “Sábado” disse que era um album pra ser ouvido naquele horario de 17:30 a 18:00, e pensei que 30 e poucos minutos é um bom tempo pras pessoas ouvirem a absorverem de uma vez só e até por isso que eu fiz as músicas dialogando entre si, o que eu acho que faltou no outro.

DP: Percebi que nas faixas “Moleque” e “Até um outro dia” você usou a palavra “Andorinha” como um verbo, de onde surgiu isso?
A: Isso foi coisa que veio do nada, ela apareceu primeiro em “Até um outro dia” e ela tem toda uma vibe de você se libertar de uma gaiola (um relacionamento, no caso) e eu uso a andorinha justamente como alguém que tá distante, e sempre do meu ponto de vista, imagino a pessoa no chão e eu no alto voando pra longe. E em “Moleque” eu decidi usar porque trata da questão de libertação também, só que em um sentido muito mais “mãe e filho”, e eu falo isso no shows até, ela foi inspirada numa carta que ganhei da minha mãe ao fazer 18 anos que fala do valor da liberdade, de você criar um filho e dar liberdade pra ele, e a letra fala “Quem prende firme os pés no chão / Não pode se andorinhar” que além de tratar da emancipação da vida adulta, fala daquela coisa de que toda criança é sonhadora.

DP: Como você enxerga a cena curitibana e quais as principais dificuldades?
A: Engraçado que essa é uma pergunta que eu sempre faço quando entrevisto artistas daqui, e todo mundo responde a mesma coisa, existe uma grande falta de diálogo dentro da cena, e parece que o pessoal não tem interesse em se unir e vai cada um pro seu lado. Se não houvesse isso e houvesse um evento como o “De nós para nós* pra unir bandas de diferentes nichos e diferentes lugares seria o ideal pra fortalecer e dar uma alternativa de espaço, também acho legal alguns coletivos de música que vem surgindo, selos independentes e algumas outras alternativas mas ainda tá tudo muito no começo. Outro grande problema é a estrutura porque ainda tem pouco lugar pra fazer show aqui, tem teatros mas é aquela coisa de edital, é burocrático e difícil de entrar. O SESC não tem muito foco em realizar shows por aqui, praticamente só tem show no SESC da Esquina e no SESC São José dos Pinhais, e tem espaços menores mas é muito difícil você achar algum lugar que tem a estrutura que você precisa, tem surgido propostas como um SESI que surgiu recentemente e é numa casinha muito bacana, mas cabem aproximadamente 60 pessoas por ser uma casa histórica da cidade, dai não tem como comportar mais gente do que isso. Enfim, no geral a cena em si é muito boa, tá repleta de músicos talentosos que compõem muito bem e que não perde em nada pra outras regiões, o que falta mesmo é só a comunicação.

DP: Pra você as redes sociais e a internet em geral têm que grau de importância?
A: Extrema importância, se não fosse por exemplo o esquema de fazer página do facebook, eu não saberia direito como divulgar o meu trabalho, não teria como lançar e teria que procurar fazer mídia física ou algo do gênero e até tem pessoas que me cobram isso, mas eu ainda não tenho público suficiente pra fazer isso sem levar prejuízo, e por enquanto acho que a
internet é essencial pra soltar minhas músicas por aí, de graça mesmo, não vejo sentido de cobrar por uma coisa que teve um custo muito baixo de produção, e eu acho que a internet é importante nesse sentido de dar abertura pra todo mundo postar a sua arte, e foi assim que eu consegui concretizar meu projeto, apesar de ainda faltar muito pra eu conseguir chegar onde eu quero, que não é exatamente fama, mas atingir mais pessoas e conseguir consolidar uma agenda de shows. E outra coisa muito interessante são os sites que divulgam música nacional, como o próprio “Jardim Elétrico”, e as pessoas usam esses sites pra pesquisar e descobrir coisas novas e esse é um ponto importante, o publico tem um acesso muito maior, eu mesmo sempre fui um rato de last.fm e ia ouvindo inúmeras bandas através dos artistas relacionados, se não fosse isso muitos artistas novos não teriam surgido.

DP: Mês que vem você vai fazer seu primeiro show em São Paulo e abrir o show do Castello Branco, o que isso significa pra você?
A: É algo muito importante, primeiro que sair da sua cidade e do seu estado pra tocar vai ser uma coisa completamente nova pra mim, porque querendo ou não quando você é artista iniciante boa parte do seu público é constituído por sua família e amigos, até tem um pessoal que caiu de paraquedas mas é a minoria, e eu vou estar num lugar que eu conheço 10 pessoas no máximo então vai ser muito legal porque vão ter pessoas que terão o primeiro contato com a minha música e eu tendo o primeiro contato com um público que não me conhece. E o fato de abrir o show do Castello! Eu admiro o trabalho dele e me parece ser uma pessoa muito bacana, inclusive quando eu mostrei a música “Céu” pro Bruno Giorgi (Baixista – Lenine/Cícero) ele disse que lembrava Castello Branco, e apesar de eu achar que não tem muito a ver foi a partir daí que eu conheci, e agora vou tocar no mesmo evento que o cara, então é isso é realmente importante pra mim.

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19 anos, Agitador cultural iniciante e estudante de publicidade. Busco vivenciar a arte o máximo que posso, seja escrita, falada, desenhada ou abstrata.