Exclusivo: Carlos Posada

Exclusivo: Carlos Posada

Carlos Posada (2)

Prosa pesada e direta, poesia intensa que bordeja cada palavra emitida com o impacto de um disparo de arma de fogo. Não dá pra falar de raiz, dá pra falar somente de tronco e galhos, folhas e frutos, como árvore suspensa em direção ao centro-sol. A beleza de “Posada”, primeiro disco do cantor e compositor Carlos Posada é viril, cheia de força e vigor, sem frescura e, ainda assim, elegante. Coluna dórica a segurar vasto firmamento poético.

O disco possui a energia do rock plugado ao mais íntimo tato da canção, principalmente da região nordeste, e vai além do que hoje se costuma chamar de pós-mangue. Nele o sotaque faz par com o groove em uma dança de passo firme e marcado, dando peso e cadência às composições.

Visceral em alguns momentos, sempre com a sobreposição de elementos que atenuam ou reforçam os atritos líricos, sejam eles versos ou arranjos, “Posada” é contraste. Seca e fatura, ternura e rudeza, inquietude e mansidão. O alinhamento se dá por sobreposições de afetos, balanço de mar a caminho das arestas do sertão. A aparente simplicidade evoca o lado mais rústico de todos nós, enquanto o refinamento surge nos detalhes dos arranjos e ideias que Carlos Posada dividiu com Bruno Giorgi, que assumiu a produção do disco junto com o cantor.

Originalmente o trabalho atenderia pelo nome de Posada e O Clã (banda carioca formada por Bruno Giorgi, Hugo Noguchi, Gabriel Ventura e Gabriel Barbosa), mas o processo de criação do mesmo levou a outro desfecho: “Ele – o disco – começa comigo no violão (Terraço) e termina com O Clã todo tocando (Mastigue), o meio do disco são as ideias, arranjos, brincadeiras e estudos meus e do Bruno Giorgi. Por isso colocamos apenas POSADA”, explica o atirador – um sueco de nascimento e brasileiríssimo de criação e coração, que passou a maior parte da sua vida em Pernambuco e que desde 2001 reside na cidade do Rio de Janeiro. Sozinho ou com O Clã, Posada também já se apresentou ao lado do fenômeno musical Lenine, que conheceu quando ainda morava em Recife, e participou do disco de estreia do compositor César Lacerda.

Entre programações eletrônicas e guitarras distorcidas, habitam o disco as precisões líricas de letras que agem como verdadeiras rajadas de sensações. São cenas, personagens e ações que se desdobram de maneira ágil, sem nunca perder a sutileza. Às vezes calmo; às vezes virulento; urbano em algumas partes e bucólico em outras: o disco de estreia de Carlos Posada é uma verdadeira eclosão de emoções à flor da pele, cantadas com muita atitude, intensidade e entrega.

Prepare-se para ser alvejado no peito.

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Escritor, jornalista e editor. Responsável pela curadoria de conteúdo do Jardim Elétrico.